quinta-feira, 27 de julho de 2023

O PESCADOR DE URUBU


ElsonMAraujo

 

Ariano Suassuna dizia que toda cidade do sertão tem um doido, um bêbado e um mentiroso. personagens imortalizadas no conjunto da sua obra. Essas personalidades são facilmente identificadas pelo nome, e por vezes, por suas proezas. Não deixam de ser figuras que guardam um certo tipo de importância, comumente reconhecidas só depois que morrem. Enterros desses populares, nas pequenas cidades, costumam arrastar multidões.  Terminam, de alguma maneira, imortalizados pela oralidade popular.

Quem não tem uma (h) estória de doido, mentiroso e bêbado para contar? Ou mesmo um personagem para lembrar nas rodadas de conversa?

Na cidade, basta uma pequena provocação com representantes dos troncos familiares mais antigos para o surgimento de um desfile dessas figuraças que marcaram época, num tempo de uma imperatriz mais provinciana. O saudoso cantor e compositor Selim Galhães, que morreu em 2021, tinha paixão por essas personalidades. Via neles poesia e arte.   Nas nossas conversas sobre as coisas da cidade lembrava sempre do Mujuba. Um “sábio”, segundo ele, respeitado por todos, que morava num barreiro, ali próximo do prédio do INSS, e com quem, na meninice gostava de “trocar ideias”

Mujuba está imortalizado numa composição de um outro artista maranhense/imperatrizense/carolinense Erasmo Dibbel. Em “Minha cidade” o cantor , além de Mujuba, lembra o Elias do Boi, outro personagem da cidade nesse linha de importância.

 

{...Minha cidade engatinha

E mujuba de palavras sábias sofre

Vêde elias perdido num boi tão iô-iô...}

Ontem , ao conversar com o jornalista Colo Filho, um apaixonado pelas coisas da cidade, ele lembrava de outras dessas figuraças do cotidiano da Imperatriz de antigamente. Se ele lembrou, é porque nunca morreram. O índio doido, que surgiu do nada e assustava a todos com um pedaço de pau, na mão; mas que nunca ofendeu ninguém, o Pedro Mentira, o Guriatã, que já amanhecia o dia embriagado, e o cego, que enlouquecia quando a molecada chegava perto dele e imitava o mugido de um boi. Na prosa, acabei por lembrar do Josias, que vestido de mulher, subia e descia a Coronel Manoel Bandeira falando sozinho. Carregava sempre um bastão com o qual espantava a meninada, entre as quais eu, que o atazanava.  

Quem pensa que o Suassuna deixou de ter razão, se engana. Em Imperatriz, que já tem ares de metrópole a evolução deixou mais difícil de identificar essas celebridades. Mas elas continuam presente nas pequenas cidades. Nesta semana encontrei a história de um “pescador de urubu”. Acredito que ainda tenho um restinho de espaço na página para contar a história.

Num povoado, no interior de uma cidade sul maranhense, uma esposa desses bêbados de todos os dias, cansada da rotina, passou a procurar uma fórmula para obrigar o companheiro a abandonar a maldita. Foi aí, que ouviu de uma velha índia que o fel do urubu, capturado vivo,  misturado à cachaça resolveria o problema. A mulher resolveu apostar tudo nessa possibilidade. O problema era pegar a ave para tirar o bendito fel.

Como se sabe, o fel é como popularmente é conhecida a bile, fluido produzido pelo fígado. Consta que amarga para diabo, mas é essencial para a digestão de gordura, no órgão de origem.

A mulher não conseguia se enxergar capturando o urubu. Foi aí que teve a ideia de contratar alguém para a tarefa. A escolha recaiu em outro frequentador do mesmo boteco do marido, que já não batia bem da cabeça, mas que ainda seguia alguns comandos.  Ela prometeu uma camisa nova se ele lhe trouxesse um urubu. Tarefa aceita.

O tarefeiro passou a fazer tocaia no abatedouro da moita do povoado, palco dos urubus da cidade. Tentou uma, duas, três vezes, apanhar convencionalmente  o bicho, mas não obteve êxito. Foi aí, que num momento de iluminação teve a brilhante ideia de utilizar um anzol para pegar a arisca ave. Correu até o quintal de um pescador do lugar e furtou a peça inteira de um anzol. Depois, passou num açougue, onde pegou uns pedaços de sebo para usar como isca e correu de volta ao abatedouro.

A captura do bicho, que não foi fácil, só foi feita na quinta tentativa. Ao sentir a fisgada o bicho voo e lá se vai o tarefeiro a fazer força para trazê-lo para o chão. Chegou a correr, à vista e risos de todos, quase uns 500 metros até o urubu cansar e se entregar. Missão cumprida. Entregou a encomenda e foi recompensado com a prometida camisa.

O segredo de tudo era ninguém saber o que seria feito com ave. A mulher, naquela ocasião, não disse nada para ninguém. Houve até quem pensasse que ela comeria o animal. Manteve segredo, até o fim. O urubu foi sacrificado e dele extraído o fel, ardilosamente colocado numa meiota de cachaça maranhense que o bêbado mais famoso do povoado havia deixado do lado da rede, onde dormia.

Um sobrinho do bebum, que muito mais tarde soube da tentativa de livramento do tio  do vício da pinga, me contou que a “mandiga” não deu muito certo, mas algo diferente começou a acontecer, desde então: ele não deixou de beber, mas  toda vez que  tomava a primeira dose da manhã  era  certeza de passar o dia inteiro vomitando.  

quarta-feira, 5 de julho de 2023

ESSÊNCIA DE NÓS


(ElsonMAraujo)

Minúsculas,

Maiúsculas.

Tudo que brota

da Mãe Terra,

Carrega consigo

Partículas de

todos nós.

Nos locais mais

Inóspitos a vida

se faz presente,

chamando a

Atenção dos

Olhos da

gente.

QUANDO DEIXEI DE ACREDITAR EM PAPAI NOEL

    ElsonMAraújo Neste dezembro de 2023, mais precisamente no próximo dia 25, completarão-se 49 anos desde que deixei de acreditar em Papa...