ElsonMAraujo
O sonhar poético, o sonhar que diz ser premonitório, o sonhar profético,
este tão decantado nos textos sagrados; o sonhar que acalma e agita o coração,
o sonhar desconexo, o sonhar, traduzido como desejo, ou meta a alcançar. Enfim,
os caminhos para interpretar o sonhar são múltiplos e se intercruzam com a
religião, a ciência e a cultura. O sonho é um mecanismo complexo, e até hoje
objeto de estudos, não conclusivos, mas que se sabe extremamente benéfico para
o equilíbrio humano.
A ciência define o sonho como uma experiência de imaginação do inconsciente
durante o sono. Sigmund Freud, o fundador da psicanalise e precursor dos
estudos sobre o tema, diz que os sonhos noturnos são gerados na busca pela
realização dos desejos reprimidos. Já o
psiquiatra e pesquisador americano John Allan Hobson considerou "os sonhos
como um mero subproduto da atividade cerebral noturna".
Fora da ciência, em muitas tradições culturais e religiosos, o ato de
sonhar ganha ares esotéricos, neste caso revestido de poderes premonitórios.
Em algumas denominações religiosas é comum ouvir a frase “tive um sonho
de revelação contigo”, que grosso modo, seriam mensagens divinas direcionadas
aos fiéis, que costumam levá-los muito a sério.
No senso comum, o ato de sonhar tem sempre um significado. Quando ainda
não tem, cria-se um. Conheço vários casos.
Esses “significados” mudam de pessoa para a pessoa. É só sonhar, que
começam os exercícios de interpretação. Tempos atrás, lá no bairro Vila Lobão,
apareceu uma senhora que vendia sonhos para jogadores do jogo do bicho. Teria dado
certo uma vez, e foi o bastante para a casa dela virar um ponto de encontro dos
apostadores. Por algum tempo, vender sonhos foi seu ganha pão. Cheguei a
noticiar “esse comércio exótico” quando trabalhava formalmente na imprensa
local.
Já tive sonhos premonitórios. É verdade! Uma vez botei na cabeça que
iria sonhar com as seis dezenas da megasena. Demorou, mas não é que sonhei! Não
com os seis números, mas com cinco. Sabe quanto ganhei? Nada. As cinco dezenas
saíram dispersas nos outros volantes, para minha inteira decepção.
Para não haver mais frustração passei a tratar os sonhos, dos quais
lembro, com um certo lirismo. Uma vez tive um sonho assim “meio louco” sem
tradução aparente. O sonho foi mais ou menos de acordo com descrição abaixo.
Não encontrei, dessa vez significado nenhum, mas nunca o esqueci e tento saber
até hoje o que “ele queria me dizer” Se você, leitor, entende de sonhos me ajude a interpretá-lo.
“No universo dos sonhos, rostos perdidos surgem na imensidão do tempo.
Alguns, com olhos brilhantes destacados na penumbra, sorriem; outros, parecem
indiferentes, e num terceiro quadrante alguns simplesmente só observam, sem
nada esboçar. Esses desapareceram, na mesma velocidade que apareceram”
Numa outra vez, dormi lembrando do meu saudoso pai, o mestre Zuza.
Quando acordei o sonho acabou rendendo o texto abaixo reproduzido e que acabei
publicando no meu primeiro livro solo, Universo Aberto.
MÚSICOS SÃO ANJOS
Sonhei que anjos desciam à Terra, e que num final de tarde de Céu azul
anilado, empunhando liras e harpas, executavam uma canção que nunca ninguém
tinha ouvido.
Os filhos da Terra ficaram encantados com todos os sentidos vidrados no
infinito azul e conectados àquela ária, ornada pela filarmônica de anjos,
naquele instante ouvida em todo o Planeta.
Ao final, vendo que aquilo era bom para os ouvidos e a alma, nem todos
os anjos retornaram para o Céu. Alguns permaneceram aqui para continuar a
encantar a alma da gente com acordes celestiais.
Músicos são anjos, meu pai era um.
Passei então, desde o sonho frustrante com os números da mega-sena, a
agir dessa forma. Quando o sonho é bom, não tem jeito, trato logo dele extrair
uma tradução poética. E assim, sigo sonhando, sonhando, sonhando.
Com, ou sem significado,
sonhar termina sendo um fenômeno extremamente importante e carregado de
simbolismo. Acredito até que pode ser
uma forma de comunicação conosco e com os universos que nos cercam. No mínimo, de um sonho, nasce a vontade de
construir crônicas ou poesia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário