domingo, 28 de julho de 2024

CREIO

 

Ao longo da vida, por diversas questões, pessoais e também circunstanciais, cheguei a duvidar da existência de Deus. Nasci e cresci num lar cristão/católico. Batismo, Primeira Comunhão, crisma, clube de jovens, movimentos carismáticos, enfim, fiz tudo que um jovem cristão, nascido num lar católico, por tradição familiar, no início da vida precisava fazer. Anos depois, frequentei a Assembleia de Deus. Imagine então o dilema que vivi quando das vezes em que duvidei da existência do Criador? Tudo ficou só comigo. Tema sensível, socializo pela primeira vez aqui neste cantinho semanal. Mas, e tudo tem sempre um mas, minha descrença durou pouco.

Costumo hoje dizer, em tom de brincadeira, que tentei algumas vezes ser ateu. O ateísmo é a ausência de crença em uma ou mais divindades, mas no senso comum se convencionou que é a pessoa que não acredita em Deus. Enfim, minha tentativa de virar um “sem Deus”, graças a Deus, foi frustrada. É que por mais que tentasse provar, para mim mesmo, a inexistência dele, a coisa não dava certo. Sabe o porquê? É que a cada tentativa, mais Ele aparecia na minha frente, estando presente em tudo que via. Vez por outra, lembrava daquela saudação, típica do islam.  ”O Deus que habita em mim, é o mesmo que habita em você”. Uma frase que hoje considero de uma profundidade extraordinária.

Em outra ponta, recordava dos tempos da catequese quando fui ensinado que Deus mora dentro de nós, e que nosso corpo é o templo do Espírito Santo, um dos componentes da Santíssima Trindade. Na época de infância, não tinha, mas que hoje faz muito sentido para mim.

Como uma coisa puxa outra, também vinha até mim o conceito bíblico que diz que Deus verdadeiramente é onisciente, onipresente e onipotente e que possui várias moradas, uma delas no nosso interior. Não tenho mais dúvida da existência de um Ser Superior, que tudo sabe, que tudo vê, que equilibra o universo quando há necessidade de equilibrá-lo e que, de igual modo, o desequilibra.

E foi numa dessas noites insones, em que a mente teima em rever o passado e imaginar o futuro, que me peguei refletindo sobre a simplicidade da fé. Lembrei-me das palavras de um santo católico, que dizia que é no silêncio do coração que Deus fala. Na minha mente inquieta, algo insistia em pontuar que não é preciso buscar sinais espetaculares ou milagres grandiosos para sentir a presença de Deus. A presença divina se manifestava nas pequenas coisas, nas sutilezas do cotidiano, no sorriso de uma criança, no pôr do sol, no abraço sincero de um amigo. Essas pequenas manifestações me fizeram perceber que Deus não está distante, mas sim intimamente ligado a cada momento de nossas vidas.

Gosto muito de ler textos sobre esse tema e da lavra de autores de diversas confissões, evidentemente construídos em momentos de profundas reflexões. Ouso até dizer que essas reflexões são provocadas pelo próprio Criador de todas as coisas. Dias desses cheguei a uma conclusão: Estou certo? Não sei! Contudo, essa conclusão não sai da minha cabeça: a de que nesse lado do Planeta Terra, nos “ensinaram” Deus de forma deturpada. O homem complicou demais a existência dele ao cercá-lo de verdades engarrafadas, utilizando-o, por meio das religiões, como instrumento de dominação. Outra conclusão: a relação com Deus é mais simples do que muitos imaginam, principalmente porque somos uma de suas moradas.

Deus existe sim! Está presente em todos os lugares, em todos os momentos, inspirando e se mostrando, o tempo todo, a todos os seres da Terra. Deus existe sim! E se faz revelar a todo momento. E, assim, na simplicidade da fé renovada, encontrei paz e um sentido profundo para a minha existência, percebendo que, em cada pequena coisa, Ele se revela e nos convida a viver com amor e gratidão.

sábado, 20 de julho de 2024

UM POUCO SOBRE A MULTIDÃO


Tem gente que tem medo de multidão ou sente crise de ansiedade incontrolável quando se depara com esse tipo de situação. Esses dois mecanismos têm até nome. Nomes esquisitos, por sinal. O medo explícito de multidão a ciência batizou de demofobia. Também conhecido por oclofobia ou enoclofobia, que é quando se tem fobia de estar em ambientes cheios de pessoas. Já a situação de ansiedade incontrolável a ciência denominou de agorafobia, que ocorre tanto em lugares fechados quanto em abertos. Ambas as denominações mencionadas, no geral, significam, numa linguagem bem nossa, o medo de estar no meio de muita gente.

O contrário também existe. Há muitas pessoas que conseguem, por vários motivos, se encontrar na multidão. A psicologia e sua prima, a sociologia moderna, estudam esses fenômenos da natureza humana. Enquanto a sociologia estuda o comportamento e a interação de indivíduos em um grupo, a atração por multidões e sua influência sobre estes, a psicologia social vai estudar a sensação de pertencimento, excitação sensorial e até uma tal de filifilia, denominação esquisita para descrever a não menos esquisita atração sexual por multidões ou aglomerações. Perceba aí a complexidade do ser humano, que não se reduz a uma montanha de células, músculos, suor e sangue, mas a um complexo mecanismo, uma pedra bruta objeto de observação e estudos permanentes.

Confesso que este não seria o tema da semana. Mas aí a gente começa a escrever, vai refletindo, o pensamento fluindo e o tema que seria para estar aqui hoje vai ficando lá para trás. Talvez nem volte mais.

Não me enquadro em nenhum quadro dos estudos referidos até aqui. Mas fiquei curioso para descobrir como se denomina as pessoas que gostam de observar multidão, como é meu caso. O hábito de escrever me levou ao hábito de observar com mais acuidade o “mundo ao redor”. E isso inclui coisas e pessoas. Já escrevi tempos atrás uma crônica sobre a experiência sensorial que foi de percorrer a pé um dos caminhos da cidade. Foi bacana porque acabei por enxergar coisas que via todos os dias. Não é que essa prática, para minha surpresa, também tem nome?

Novidade para mim: flâneurisme é o conceito filosófico e cultural que envolve caminhar pelas ruas da cidade de forma despretensiosa e atenta, observando os detalhes do ambiente urbano e das pessoas que o habitam. Justamente o que fiz e resultou na crônica "Do que Sentirei Saudade Quando Morrer?", que pode ser acessada no seguinte endereço: https://regiaotocantina.com.br/2024/05/19/do-que-sentirei-saudade-quando-morrer/ publicada em Maio 2024 e em maio deste ano.

Pois flâneurisme  foi a denominação mais próxima que encontrei para explicar o gosto que tenho de explorar meus sentidos ao percorrer a cidade e a me deparar com aglomerações de pessoas e, por vezes, multidões. Lembrei que fazia isso bem antes de intensificar o hábito de escrever, que vem da  infância.

Aprendemos muito com a observação dos tipos humanos reunidos, seja nos pequenos ou grandes espaços. Desde as heranças físicas/genéticas até a análise comportamental. E nem precisa ser cientista para isso.

As aglomerações, os ajuntamentos de gente constituem-se em verdadeiros laboratórios onde é possível aprender e apreender muito sobre as dimensões do ser humano. Cada rosto, cada gesto, cada murmúrio ou exclamação revela um fragmento do mosaico que compõe a nossa humanidade. É como se cada indivíduo fosse uma página viva de um livro interminável, onde histórias de vida, esperanças e desilusões se entrelaçam, formando uma tapeçaria rica e multifacetada.

Nas grandes cidades, como nossa querida Imperatriz, as multidões são como rios caudalosos, onde a correnteza de pessoas flui incessantemente. Observar essa correnteza é como mergulhar num universo paralelo, onde se pode testemunhar a diversidade da experiência humana. Ali, no meio da massa de corpos e vozes, percebemos que somos, ao mesmo tempo, únicos e parte de um todo maior. É nesse fluxo contínuo de vida que reside a beleza da multidão: uma celebração constante da existência humana, com todos os seus paradoxos e maravilhas.

Quando as raízes são fortes, não importa o tamanho da poda: a vida volta a brotar

  A árvore sentada ElsonMAraujo     Na BR-010, no trecho urbano de Imperatriz, entre o Riacho Cacau e a área do 50º BIS, ainda é possí...