O
contrário também existe. Há muitas pessoas que conseguem, por vários motivos, se
encontrar na multidão. A psicologia e sua prima, a sociologia moderna,
estudam esses fenômenos da natureza humana. Enquanto a sociologia estuda o
comportamento e a interação de indivíduos em um grupo, a atração
por multidões e sua influência sobre estes, a psicologia social vai estudar
a sensação de pertencimento, excitação sensorial e até uma tal de filifilia,
denominação esquisita para descrever a não menos esquisita atração sexual
por multidões ou aglomerações. Perceba
aí a complexidade do ser humano, que não se reduz a uma montanha de células,
músculos, suor e sangue, mas a um complexo mecanismo, uma pedra bruta
objeto de observação e estudos permanentes.
Confesso que este não seria o
tema da semana. Mas aí a gente começa a escrever, vai refletindo, o pensamento
fluindo e o tema que seria para estar aqui hoje vai ficando lá para trás.
Talvez nem volte mais.
Não me enquadro em nenhum
quadro dos estudos referidos até aqui. Mas fiquei curioso para descobrir como
se denomina as pessoas que gostam de observar multidão, como é meu caso. O
hábito de escrever me levou ao hábito de observar com mais acuidade o “mundo ao
redor”. E isso inclui coisas e pessoas. Já escrevi tempos atrás uma crônica
sobre a experiência sensorial que foi de percorrer a pé um dos caminhos da
cidade. Foi bacana porque acabei por enxergar coisas que via todos os dias.
Não é que essa prática, para minha surpresa, também tem nome?
Novidade para mim: flâneurisme
é o conceito filosófico e cultural que envolve caminhar pelas ruas da cidade de
forma despretensiosa e atenta, observando os detalhes do ambiente urbano e das
pessoas que o habitam. Justamente o que fiz e resultou na crônica "Do
que Sentirei Saudade Quando Morrer?", que pode ser acessada no
seguinte endereço: https://regiaotocantina.com.br/2024/05/19/do-que-sentirei-saudade-quando-morrer/ publicada
em Maio 2024 e em maio deste ano.
Pois flâneurisme foi a denominação mais próxima que encontrei
para explicar o gosto que tenho de explorar meus sentidos ao percorrer a cidade
e a me deparar com aglomerações de pessoas e, por vezes, multidões. Lembrei que
fazia isso bem antes de intensificar o hábito de escrever, que vem da infância.
Aprendemos muito com a
observação dos tipos humanos reunidos, seja nos pequenos ou grandes espaços.
Desde as heranças físicas/genéticas até a análise comportamental. E nem precisa
ser cientista para isso.
As aglomerações, os
ajuntamentos de gente constituem-se em verdadeiros laboratórios onde é possível
aprender e apreender muito sobre as dimensões do ser humano. Cada rosto,
cada gesto, cada murmúrio ou exclamação revela um fragmento do mosaico que
compõe a nossa humanidade. É como se cada indivíduo fosse uma página viva de um
livro interminável, onde histórias de vida, esperanças e desilusões se
entrelaçam, formando uma tapeçaria rica e multifacetada.
Nas grandes cidades, como
nossa querida Imperatriz, as multidões são como rios caudalosos, onde a
correnteza de pessoas flui incessantemente. Observar essa correnteza é como
mergulhar num universo paralelo, onde se pode testemunhar a diversidade da
experiência humana. Ali, no meio da massa de corpos e vozes, percebemos que
somos, ao mesmo tempo, únicos e parte de um todo maior. É nesse fluxo contínuo
de vida que reside a beleza da multidão: uma celebração constante da existência
humana, com todos os seus paradoxos e maravilhas.
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