A árvore sentada
ElsonMAraujo
Na BR-010, no trecho urbano de
Imperatriz, entre o Riacho Cacau e a área do 50º BIS, ainda é possível
encontrar algumas espécies da flora amazônica e do cerrado. Entre elas,
destacam-se os ipês, mangueiras, cajueiros e faveiras. Algumas dessas árvores
foram plantadas nas décadas de 1990 e 2000, mas, com um olhar mais atento,
ainda se encontram exemplares remanescentes da década de 1960, quando o
engenheiro Bernardo Sayão comandou a construção da rodovia que transformou,
para sempre, a história de Imperatriz.
Transformei em hábito, sempre
que percorro esse trecho da BR-010, tentar identificar as árvores mais antigas.
Imagino-as e admiro-as como verdadeiros totens de nossa ancestralidade. Talvez
não houvesse celulose suficiente para todos os acontecimentos guardados no DNA
da bruta seiva que corre em cada uma delas.
Não é difícil identificar
esses monumentos ao longo da rodovia. As mais resistentes ao tempo permanecem
entre a Rodoviária Velha e o 50º BIS.
Nas idas e vindas pela BR,
muitas vezes fui tentado a parar para fotografar, especialmente nos meses de
julho, agosto e setembro, quando os ipês florescem neste canto do país, onde se
entrelaçam os biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga. Tenho muitos registros. Um
dos mais preciosos é o de uma antiga faveira, que chamava atenção não só por
sua imponência e a enorme copa que oferecia sua generosa sombra nos dias de sol
ardente, mas também por uma característica singular: parecia estar sentada.
Além disso, resistiu bravamente a inúmeras intempéries que quase a arrancaram
daquele solo.
Uso o tempo passado para me
referir à famosa árvore sentada da BR-010, imortalizada em uma tela do jornalista,
escritor e artista plástico João Marcos, exposta no Centro Cultural Tatajuba,
porque ela, de fato, virou memória. Recentemente, num dia de sol forte, passei
pelo local apenas para revê-la, mas ela já não estava mais lá. Pensei, de
início, que tivesse sido retirada pelas mãos humanas, mas logo descobri que, em
um desses dias de fortes rajadas de vento, seu tronco já cansado não resistiu.
De sentada, a árvore tombou. Ficaram apenas as raízes.
Não é figura de linguagem, nem
licença poética. Digo que chorei, e não é metáfora. Foi uma tristeza sincera.
Os dias passaram. E nesta semana, precisamente na quarta-feira, 11 de setembro,
algo me chamou a atenção ao passar novamente pelo local: das raízes que
permaneceram firmes, brotavam novos fios de um verde intenso, quase doloroso de
tão vibrante. Um sinal claro de que a vida ali está se renovando. Uma bela
lição: quando as raízes são fortes, não importa o tamanho da poda, a vida
sempre volta a brotar.
Penso que essa árvore é uma
metáfora viva da própria cidade de Imperatriz. Assim como ela, a cidade
enfrentou ventos contrários ao longo de sua história. As tempestades das crises
econômicas, as podas de períodos de descaso e até a força devastadora das
chuvas fortes. Mas, como as raízes daquela faveira, as de Imperatriz também são
profundas, fincadas no solo da resistência e da coragem de seu povo. E, como
ela, a cidade insiste em renascer, mais forte, a cada golpe do destino.
Vejo também, na resiliência da
árvore, um reflexo da vida de cada um de nós, que, muitas vezes, somos
obrigados a enfrentar perdas, quedas e desilusões. São nesses momentos, quando
a poda parece mais severa, que nossas raízes mais internas precisam se firmar e
buscar o que de mais forte e verdadeiro temos dentro de nós. A natureza nos
ensina que o renascimento não é apenas um ato de sobrevivência, mas de
esperança.
Agora, cada vez que passo pela
BR-010, olho para o ponto onde a velha faveira um dia se ergueu e sinto que ela
ainda está ali, de alguma forma, presente. Suas novas folhas são promessas
verdes que murmuram silenciosamente ao vento: sempre haverá um retorno, uma
nova vida, uma outra oportunidade para florescer. Porque a vida, mesmo quando
parece ter terminado, sempre encontra um jeito de se reinventar, de recomeçar —
como se fosse uma semente, germinando outra vez, no terreno fértil de nossas
histórias.