domingo, 3 de dezembro de 2023

Saudade, alimento da alma



ElsonMAraujo

Em memória da professora Maria Luíza Brandão

 Para quem gosta de escrever, e escreve com regularidade, alguns temas são recorrentes. Às vezes, por achar repetitivo, você até tenta empurrá-los mais para frente, mas, quando o escriba se rebela, vem a vingança, não me pergunte da parte de quem, e a escassez de inspiração aparece, dando origem a uma briga silenciosa.  É que, enquanto o tal {texto} que insiste em nascer não é liberado, a fila não anda e a inspiração para outro assunto, não flui. Não duvide!  Sou testemunha disso.  Acontece comigo sempre. Hoje, a insistência é da tal da saudade. 

Não sei se é por conta da maturidade, mas saudade tem sido um desses temas que chegam a mim com frequência. Acredito que não se trata de uma exclusividade, minha.  Aos sábados, quando o Jornal O Progresso, da cidade de Imperatriz, sudoeste do Maranhão, abre as cortinas do seu caderno de literatura, é comum encontrar um ou mais textos versando sobre saudade. O campeão, disparado, é o mestre das crônicas Clemente Viegas, talvez eu fique em terceiro, ou quem sabe, quarto lugar.

A professora Maria Luiza Brandão, de saudosa memória, a mãe do Carlos, também in memoriam, e do Francisco Brandão, e avó do jornalista Carlos Henrique, do Márcio e da Marcella, gostava de conversar comigo, muita antes de eu me aventurar nessa seara da literatura, sobre as crônicas que todos os sábados ou aos domingos ela lia em O Progresso, e no caderno de cultura do Jornal O Estado do Maranhão. Quando não destacava Sálvio Dino, que era cronista semanal de O Estado, comentava Viegas, há anos questionando o social nas páginas de O Progresso e nas ondas da Radio Mirante AM, de São Luís. E não tinha jeito, o que mais lhe chamava atenção era quando os dois cronistas destacavam o elemento saudade.

“A gente viaja nas histórias do Viegas. Ele nos conduz para dentro do que conta, fazendo a gente sentir saudade, sem saber nem do que.  O Doutor Sálvio, é outro. Gosto demais do que eles escrevem”, dizia a inteligente e antenada professora despertando ali, naquele instante, uma vontade danada de também começar a escrever crônicas.

Tenho saudade das conversas havidas com a professora, que era uma grande contadora de histórias.  Pelo menos uma vez por semana, ali na esquina da Simplicio com a Rua São Domingos, lá estava eu, a provocá-la sobre qualquer assunto. De política a literatura, de tudo ela tinha uma observação.   Com o tempo, e o fortalecimento dos laços fraternais, com a permissão do Carlos e do Francisco, passei a chamá-la de “mãe Maria Luíza”, seguida da frase “a moça mais bonita do quarteirão”. Percebi que ela gostava daquele mimo.  E foi assim, até ela adoecer, fechar o comércio, e partir para o Oriente Eterno.

Foi numa das conversas com Mãe Maria Luíza Brandão, que descobri a história do Frei Alberto Beretta, o padre/médico de Grajaú, que na década 1960 ganhou fama de santo pelas curas inimagináveis, para a época, de alguns doentes que se avistavam com ele.  A história me rendeu uma bela reportagem sobre o padre, que no interior do Maranhão teria sido, embora não reconhecido, o precursor do uso de células tronco na cura de determinadas doenças. O texto foi publicado em O Progresso, e no Jornal o Estado do Maranhão, ganhou as redes sociais e repercute até hoje.

Embora, em regra, o elemento saudade nos leve às lágrimas, não deixa de ser um tema leve. Digo até que é um dos principais alimentos para sagrar a imortalidade daqueles ou daquelas que partiram para outros planos.

A saudade hoje, é dela. Da professora Maria Luiza Brandão, a paraibana, da cidade de Esperança, que por anos exerceu o magistério em Imperatriz, e ajudou a formar centenas de bons cidadãos.

 

 

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